Wednesday, September 03, 2008

sobre 3


... diziam todos que a Felicidade era uma Senhora-Menina, com idade de Dona e particularidades da Criança. Todos que andavam pelas ruas pensavam e cumprimentavam-se entre si, a pensar a mesma coisa: "A Felicidade é uma Senhora-Menina, e assim é, porque assim nasceu para ser". Mas o que pouco observavam, os andantes, era que, como toda boa Dona-Senhora-Criança-Menina, a tal, que é merecedora de todos os realejos, se sentia impelida a vestir-se bem aos fatos e encheirar-se como toda boa Senhora-Menina-Dona-Criança encheirar-se-ia.
Entre cheiros, vestidos e ademais adendos, houve um rapaz que, dentre tantos que a Felicidade queriam, conseguiu conquistar os seios puramente naturais e as temperanças mais intimamente próprias da Dona-Menina.
E a história que vou contar para vocês, começa à partir daí:

"enudecendo a expressão máxima do que poderia se querer naquela Vila, a Dona-Criança Felicidade, tinha, diante de mim, a crueza que jamais pensei em haver. Não seria justo para os mais puros encontrar toda a natureza pálida que vi na Menina-Senhora quando ela ficou solitariamente nua em pêlos.
Onde estaria a Felicidade, toda providade dos seus garbos e charmes, enfeites e senhorios das plumas do algodão mais delicado? Ela, agora, possuia o branco vazio que minha esperança sempre protemera me livrar... e agora? se minha esperança firmava as bases na Menina, e ela, em seu profundo âmago, era nada mais e, confesso, até menos, do que qualquer ordinária tosquice que havia visto, oque faria eu da minha vida?!! e agora? O que me alimentaria? E a minha esperança?

Calado, no âmago da vazies do raso, incapaz de me enlaçar com o ser fosco e sem vida a minha frente, fui, vagarosamente, juntando as peças de roupa, cheiros e penduricalhos de encanto da Dona-Menina, para que, assim fazendo, eu pudesse ficar em solidão o mais breve possível. Que ela se vestisse e fôssemos logo embora!

Foi então que, de pedaço em pedaço, a cada novo enlace de novo adendo, conforme a Senhora-Criança se enchia dos novos apetrechos, não se via um corpo cru escondendo-se da palidez, mas uma verdadeira Dona-Menina re-brotando, transformando-se na Felicidade que, a cada nova peça, erguia.

Caros amigos, queiram crer vocês ou não, mas esta foi a inexorabilidade da verdade que me tomou o fôlego da existência: a Felicidade não era a pureza do espírito, mas todos os laços e adendos que a carne já conhecia: cheiro-de-verão, música e sonhos.

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