Tuesday, July 01, 2008

homenagem ao "O escafandro e a borboleta"

... foi então que vi meus braços que não abraçavam mais nada, esfarelarem-se. Minhas mãos, agora de luz, acariciavam a existência das sutilezas, o toque físico já não me existia mais. Meu tronco, pulmão, costelas espalhavam-se com o vento. Os pés, essas raízes andantes, não eram mais do que a ponta inferior da fumaça de um corpo que enevoava-se.

... os que olhavam a cena, desesperavam-se. Tentavam a todo o custo me fortalecer. "não vá!" Mas o que me ligava a eles já não tinha mais a matéria suficiente para recompor-se. Chorava-se a morte do meu corpo, enquanto que, ao invés do ponto final, no ar existia ...

... o céu!

... e o que era impalpável, etéreo, clorofórmico, não mais do que um turvo vulto no recanto da imaginação, começou a virar matéria dessas que se encosta e sente o gosto. Ninguém diria que aquela pequena ofuscadez poderia se transformar em toda essa realidade. Se pudessemos perceber, antes de nosso corpo desmembrar-se, todos os cheiros que agora me são permitidos, choraríamos pela robustez dos corpos e a fragilidade do espirito, e não mais pela queda de nossas cabeças.

3 comments:

CMG said...

Assistiu o filme novamente? Quer dizer: Dormiu o filme de novo? Abraço...

Inside out said...

Choremos, sim pela fragilidade espiritual. Não especificamente pela robustez corporal, mas pela desigualdade entre os dois! Mas proponho algo ainda maior: possamos sorrir, ao buscar além da mens sana, o spiritu sano, ins corpore sano.

Cíntia said...

Oiii...adorei te conhecer!!! Seus textos são mto bons. Temos muitas coisas em comum, isso é raro! Quero cultivar nossas amizades!