Monday, June 25, 2007

Mal-humor

Sofro de mal-humor nas segundas-feiras. Ela me toma o espírito como se tivesse vida própria, como se soubesse a hora de atacar, a maneira de me persuadir, de direcionar minha atenção para as coisas que menos me agradam.
Segundas-feiras possuem um espírito maligno, pálido, que se mostra nas névoas que andam pelas ruas durante suas manhãs. São o sopro de um dragão sombrio, camuflado, se esgueirando pelos princípios da vida afim de tomar os belos suspiros dos apaixonados e inflar os olhares odiosos dos ingratos. Pelas segundas, sou ingrato. Mordo-me os dentes e não temo o rancor, sou negro-noite, sem estrelas, emito o mesmo uivo soturno dos coiotes sedentos pela carne sangrenta dos que acham que dormem tranquilamente. Segundas-feiras são perigosas para os que procuram, na vida, só o canto de regozijo com os passarinhos, para os que acreditam em um grande amor como um berço de carinho para os destratos da alma humana, para os que passam longe dos becos de suas psiquês em busca do colorido das luzes artificializadas. Segundas-feiras, meus futuros caros fúnebres corpos, são para os que apreciam, e conseguem ter, a coloração cinza-escuro escarlate em seu matiz d´alma, em seus espelhos mortais dos gestos de vida. Para os outros, os meros restantes, esperem o dia seguinte, pois hoje é para os que não temem a desesperança e sentem na perdição o contato com o sublime da vida, já que não há quem possa afirmar que o altar supremo da existência seja ele mais claro do que essas segundas, tão íntimas, insubstituíveis e plenas do obscuro lado sem luz.

Sunday, June 17, 2007

Teoria da Compensação

Faça-se aqui uma idéia.

Idéia de que há em nossas vidas só esse movimento linear e preciso de procurar o centro. Linear, para poder simplificar todas as direções em esquerda e a direita; e preciso, porque se trata de um só ponto a chegar.

Se algum corpo pende à esquerda, sente o seu desequilíbrio, seu erro em relação ao tal centro, e para isso ansia o outro sentido. Mas ao contrário dos pêndulos físicos, os pêndulos psicológicos não precisam serem forçados na outra direção se quiserem acertar "serem" no meio.

Mirando os alvos mais certos, como o da lei da natureza, que foge ao nosso princípio racional, e o do tempo, que se neutraliza por ser tão intenso, erramo-los facilmente se os fitamos com os olhos que estão nos rostos das lógicas da vingança, mesmo que não sejam vingativas, mas compensatórias, acabando por nos deixar desabilitados de acertar tão simples e inexpugnáveis conceitos: o tempo que não passa, mas está temporalmente sempre presente em um mesmo momento; e as leis naturais que são tão complexas e fogem tanto ao nosso sentido de justiça, que paira na natureza uma grande conspiração para a vida, independente de valores.
E é obedecendo a neutralidade da vida e a imobilidade temporal que os acontecimentos que tendem à esquerda ou direita não necessitam serem revistos em uma próxima atitude, mas sim, desistidos, abandonados de qualquer tentativa de conserto. Aos erros passados há a falta de justiça e o não-tempo da natureza como solução. Tais características do mundo, além de resolverem os acontecimentos "lateralizados", também resolvem a nossa necessidade de centramento. Naturalmente somos levados ao centro, e não há necessidade de esforço algum.

A compensação do movimento é justamente o que tira, mais uma vez, a sua consciência do tão querido estado central.

Os movimentos não devem ser compensados!

O passado, sendo privilégio único da memória, deve acontecer psiquicamente de maneira calma, sem relevância maior. Se há reviradas e contra-sensos por motivos anteriores, então está certo de que o velho sobrevive em seu universo mental de maneira a querer compensar estes acontecimentos anteriores, e mais uma vez, distancia-te do centro, e se mais uma vez distancia-te do centro, mais uma vez sentirá a necessidade de compensação. ABANDONE-SE, ENTREGUE-SE, é disto que trata a Teoria da Compensação.
Se não há mais passado ativo em nossas maneiras e atitudes, o centro se apresenta.

As compensações são ilusórias, assim como a permanência do passado é recurso da imaginação sobre situações não mais existentes.

Queria eu conseguir não lembrar efusivamente, ter a memória só como auxílio e não como a mestra das decisões.

Friday, June 15, 2007

Pessoas de todas as nações, conversai-vos.

Qual vida leva a fala constante, as idéias pulsando para fora do corpo, a tentativa de aproximação?

Não estamos aptos para uma vida comum, nunca estivemos, a comunicação é medíocre, pejorativa, muito tranquila. Sabe-se lá oque pensam e assim, sabe-se lá oque dizer. Continuar em um tratamento cordial incessante, tentando construir uma vida aparentemente agradável é atitude vasta, mas que em nada há de verdadeiro com suas afinadas particularidades. As particularidades já se perderam há muito. Mas é até natural que não se fale muita coisa, é certo que há de estar sempre implícito oque se deve pensar, e claro, retira-se assim toda a necessidade da troca de informações? Podemos tê-las pelo google, afinal, ora bolas.

Assusta a incapacidade geral de manter um diálogo honesto, sem que a tendência disso seja a tentativa de persuasão e a ânsia da vitória retórica. Desse modo, quase que sou. mas não sou, adepto da idéia, que para evitar tais violências, deve-se sobrar para a brisa flutuante das questões pessoais no momento da fala, o esquecimento.

Não percamos tudo, pois há momentos que sente-se necessidade de comunicação e ela acontece! Acontece juntamente com o desagrado dos que ainda querem a verdade na expressão. Acontece como momentos estratégicos para a manutenção das aparências, como se a possibilidade quase que infinita do livre trânsito de informações entre uma pessoa e outra se resumisse em uma simples extenção de suas roupas e seus penteados. Assim, não posso mais!! O AGRADO NÃO PODE MAIS SE ESTENDER PARA O MUNDO DAS IDÉIAS, PARA O MUNDO DA COMUNICAÇÃO. O agrado aqui é, ao contrário de um senso apurado, a falta de toda a sensibilidade; é o prazer que se tem com a monotonia dos costumes e das regras; regras impostas, regras insensíveis, insensatas.
Chega de dar margem para a continuação das hiporisias: PROLETÁRIOS E BURGUESES DO MUNDO, COMUNICAI-VOS VERDADEIRAMENTE!!

A honestidade na fala deve ser a consequência da honestidade da mente. Se fala às escondidas, esgueirado pelas paredes, como uma aranha a andar pelos vãos escuros, é porque sua mente deve estar nas mesma condições sub-clarificadas, sub-honestas, sub-presente, sub-coerente.
E além de tudo ainda há, para os que não sabem oque pensar, ter medo dos que pensam e assim o dizem. Para os bobos, a expressão deve se dar de maneira generalizada e entediante, porque se há alguma profundidade, alguma idiossincrasia, alguma presença pessoal nos significados das palavras, a grande massa dos impessoais-pessoas que andam por aí, só terão o gelo e a estranheza para lhe servirem como anfitriões, e para receber o desconhecido, leia-se aqui "o mundo das idéias", se prontificará neles o receio da ignorância.