Monday, March 05, 2007

A DESTRUIÇÃO

A vejo toda branca, em sensação algodinosa, nos pairando, parando, passando e flutuando entre nós, Natureza, submetendo todos a mercê de seu brando-branco-dissolvente assopro. Se Jesus, Buda, Osho foram alguns dos filhos, ela foi, dos 3, a única Mulher.
Mas como foi difícil percebe-La tão nítida quanto A posso reconhecer agora... no pequeno cheirador de cola atravessando entre os carros enquanto se rejubila por achar que conseguiu pegar uma carteira para si; na sensual mulher com seu vestido verde a andar na calçada como se a rua toda fosse sua; na esposa que gesticula as mãos e os lábios desesperadamente furiosos, e o seu marido a sua frente também gritando com a grosseria diabólica própria dos que procuram construir, ou manter construído, uma vida que tanto prezam para que lhes pertençam. Mas para quem já conheceu a suave-doce Donzela, ve a cena em uma lentidão que deixa tudo silencioso, coloca-a sobre um grande espaço vazio reconfortante, nos dando tempo suficiente para ver nitidamente as salivas masculinas adentrando o ar e atingindo espatifatosamente o rosto de quem ele considera sua mulher (a qual, por sua vez, considera-o seu, também), e no fundo de tudo, como uma risada gostosa de criança, ve a claridade doque já poderiam saber todos eles: de que nenhum objeto poderá se tornar mais deles do já são da delicada e doce algodo-branco Senhorita.

Ela, tão fluída e renovante como a água de um corrego alpino, suave brisa de preguiça benigna, berço para a paz dos que já se aperceberam de que não há porque querer que algo os pertença, e, ao contrário da desesperada mulher que cospe e grita, flutuam docemente no ar que só acomete quem já se permitiu respirar as desencarnações que vem do enorme véu da linda-pacífica-pairosa, sempre criança, Mulher.
Desencarnações que são, na essência, o seu próprio véu, o qual é, por sua vez, a própria Menina branca e suave. E se você acha que está recebendo algo que talvez possa ter passado remotamente por Ela, ou talvez de maneira indireta possa um dia vir ao seu encontro, na verdade está é recebendo-A na cara, no mais fundo do seu íntimo, simbioticamente, descaradamente, sem-vergonhamente. Ela está, mesmo agora, em um constante estupro aleluiático com a sua vida, e se quiser vê-La, se tiver a coragem para isso, não há nada mais que precise fazer além de abrir os olhos. Abra-os, e não haverá como não perceber de que Ela habita desde suas mais fantasiosas e rebuscadas aventuras, até as suas mais enmerdadas entranhas.

Inspiramos e expiramos-na a todo momento, fazendo a tão suave Menina entrar e sair interminavelmente de nossos corpos e almas, em um constante e incessante movimento sexual, sendo possuído pela Tal em indiscreta e indiscriminada transa, sendo penetrados e penetrando-A a todos os instantes, assim como acontece com os diamantes de imensurável estima, que você, um dia, por ter se esquecido de nosssa linda pequena, jurou que fossem durar para sempre.

Ela, assim como o seu véu e as desencarnações que vêm dele (lembrando de que esses três são um só, assim como Draculia poderia ser também morcegos e lobos), se comportam de maneira atmosférica se comparados a nossa respiração. Quando respiramos, temos a impressão que somos os possuidores, os controladores, o recipiente dominante de um conteúdo dominado. Submetemos o ar a nossa vontade, chegamos a engoli-lo, fazemos dele nosso servo, pelo menos em sensação superficial, mais ou menos assim como deve acontecer com um peixe que irá ser pescados por ter resolvido engolir uma isca presa a um anzol!, mas sensação só só permeia a existência de quem ainda não sabe das relações libidinosas que possui com a fina-delicada-alva Menina. Pois da respiração, não sobra nada que sermos nós os possuídos! Enquanto o respiramos, é o ar que nos tem, é nós que nele submersos ficamos, e sem percebermos, ele nos cerca, nos engloba, nos adentra, nos oxida, nos desmistifica. E quando o fazemos entrar, então, mais somos puxados para ele, comprovadamento pelo peito que, cheio de ar, estufa e abre-se ao encontro de mais ar, ar fora de nosso corpo, ar que te faz mergulhador atmosférico, assim como eu. E é exatamente da mesma forma que estamos absorvidos na Donzela, que nos deixa afogadamente banhados em seus véus, céus, desafixações, os quais são Ela própria em simulação de tecido e ventania.

Houve, porém, quem se fez convencer de que Ela, a Bela, tornara-se Fera, e adentrou o mundo do desespero. É simples perceber de que uma lagosta que possui no mar o seu inferno, só conseguirá viver infernalmente, pois nunca viverá nos mesmos compassos de um albatroz, e assim, um homem que acredita que a pacienciosa-clara Menina é o seu mal, passará a viver amaldiçoado, pois é dela que se faz o mundo em que ele está imerso, e o mundo que imerge nele a todo momento.
Essa límpida-escolhida Diva só pôde ter sido designada por Deus como protetora do nosso mundo e das nossas cabeças! Não me é compreensível como algo tão soberano e acolhedor pode ser destinado a algo que não seja suprir com descanso o espaço de perdição que há entre nossas mentes e a realidade! Pois é a certeza de que tudo passará pelas mãos da sutil e inevitável Senhorita, que me faz poder balançar descansadamente na cadeira, com as pernas um pouco erguidas ao ar, cantando odes e iii-haass, e lembrar de que todo o esforço na direção da construção é nada mais que o próximo pó esfarelento que esfarinhará nas mãos da querida-charmosa "Mademoiselle". E pós esfarelentos não poderão ser uma condição séria para que uma consciência (essa que existe em alguns, por aí) encontre a paz. Algo mais é necessário! Talvez exatamente o seu oposto: adentrar no riacho que corre empurrado pelos ares do sopro da Escolhida, e desembocar no oceano leve e fluído que só o caminho feito pelos ventos da límpida Designada pode nos levar, abandonando-se aos carinhos que ficam passíveis àqueles que se confortam quando sabem que estão sendo carregados em seu colo - o da Destruição.

Um grande beijo...

Henri