Tenho um pedaço de carne crua em meus dentes,
abro-a como uma criança os seus novos brinquedos,
e me recompenso com o sangue espirrando fundo em minha garganta
as fibras frias rompem-se em um sulco calado,
pois nada sobra para elas que estilhar e chorar silenciosamente suas lágrimas vermelhas
sou a morte instalada em corpo benzido pela proteção,
me alimento de tudo e nada me consome,
faço a carnificina e não conheço o que me detém
a palidez da minha pele é banhada pelo sangue da podridão
e sorrio apreciando o poder que me foi concedido
minhas pernas dobradas, que me prendem rentem ao chão,
firmam-se cada vez mais,
meus dedos, com suas unhas agudas e fortes, retraem-se, ferindo a minha própria palma da mão
uso-as para espalhar a vermelhidão do sangue pelo meu pescoço
e minhas presas afiadas, impunes e punitivas
se mostram e brilham no meio de uma risada destinada aos céus
céus que me permitem todo estrago e nada me fazem
sou monstro embelezado pela falta de vida,
e, mesmo todo estragado, emputrefado,
não me resguardo e nada me diz que devo ser diferente
nos encontraremos um dia desses,
pela rua, elevador, corredores
mas não verás minhas manchas de sangue,
ou o meu dente afiado da morte
eu seguirei sem que nada me aconteça
mas você, que não desconfia,
deve se machucar com as cicatrizes que nasci para fazer
minhas unhas continuarão espalhando o sangue pelo meu corpo,
sangue limpo, que me beatifica, unge e me enche de cor
dos que acreditam e supõe a inocência
2 comments:
Pela ânsia de transformação,
Pelo sabor da liberação,
Pela decomposição da velha mente,
Pelo gozo do que é simplesmente,
Pela magia de toda a sorte,
E pelo socorro ao que nasce da morte...
Ouço: gemem as palavras.
Ouça: as palavras...
Abraço, Henri!
Keep on insighting!!!
Aeeee, algo ao meu estilo, vejo que mesmo após todo esse tempo sem conseguir ler o vosso blog que o Sr. não perdeu o dom das palavras, minhas mais sinceras congratulações.
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