
E eis que mais uma se apresentou como entidade feminina.
Ela, que se mostra como sedutora, disfarçada de canto de sereia,
não diz quem é, mas sempre me convida para o fundo do mar
Nunca sei dos seus perigos, e desavisado vou atrás de seus sons
A medida que me afundo no mar, a respiração, enquanto boa, não me alerta de nada
mas chega o momento em que a falta de ar grita mais do que o prazer de sua música
e afogadamente corro pra superfície atrás da minha vida
até hoje, mais por sorte do que acaso, não morri afogado, mas já a vi, e vou contar-lhes como é, para que, se um dia a veres também e não perceberes que está no fundo do mar, acorde atentamente e corra para se salvar.
É velha, pele murcha pelo excesso de água, rosto arroxado pela falta de ar.
Os cabelos são sebosos, mesmo eternamente em banho
Sorriso, não possui, mesmo quando sabe que está para concluir o seu trabalho de matança
seu desejo é infinito, nunca há de se saciar
os olhos são negros por completo e não há brilho algum,
só fita o chão
talvez esperando que brote alguma satisfação das almas que já enterrou
tem poucas roupas, só farrapos dos fiapos
mas seu corpo também não se mostra
é o disfarce de tudo, e por mais que você acredite no que ve, quando a enxerga,
como já me aconteceu
deve ser tudo mentira
por que a senhora Vulnerabilidade tem justamente essa característica
a do sofrimento, sem nunca se mostrar como é