Wednesday, November 04, 2009

Extinção

Fogo na floresta não foi o que se viu nessas tardes onde tudo que se procurava era mais um altar para se pendurar umas chuteiras alheias... pois queimava forte o fogo da mata que trazia a bonança e a boa aventurança... mas o paradeiro das chuteiras sempre foi mais importante do que a necessidade por felicidade simples... complique-se, diziam os calhordas na frente daquela cruz vazia, a procura de seu jesus com ginga e número na camiseta.

Cuidado ao entrar no ordinário nunca foi alvo do que se via nessas tardes onde as necessidades buscavam, e buscavam, e buscavam.... aquela sucção simplesmente era forte demais para achar que podia-se... não! poder nunca foi algo que se quis... o que se quer é esquecer da sua própria condição...

Cuidado com a condição, diziam... cuidado! Mas esses já foram mortos, desgarrados, ocultados, endemoniados e ados em tantas outras formas que seus berros foram engolidos por essa voraz voz que nos bota na linha certa, que é a de buscar, buscar, buscar...

Cuidado com a polidez não foi o que se quis quando entrou-se nesse mundo... e as desculpas acabam vindo pela sinceridade e não por essa falta horrenda, hedionda, grosseira, de vômito, grude de pus e entranhas de merda que a quem a falsa modéstia nos serve.

Cuidado, caros servos... cuidado... o seu patrão não existe! ELE SUMIU, JÁ ERA, PLÓFT! DESAPARECEU!
Quem você obedece então???
Hein???
quem???
QUEM VOCÊ OBEDECE???

O QUE VOCÊ OBEDECE????HEIN HEIN?????


desconstruam, caros servos, descontruam... é um conselho sério que dou pra vocês.

Wednesday, September 09, 2009

A extensão

Pois vejam que uma criança me atazanou esses dias. Não pude compreender porque ela ficava me encomodando com aquele carrinho enorme, que mal suas mãos miúdas conseguiam envolver. E ficava lá me acalcando aquele carrinho no prato, no garfo, no olho, dentro do cérebro, coração! Ora! 'Não pode parar de me encomodar?', pensava eu, ao mesmo tempo que nada fazia na vida real para que ela parasse com aquelas acrobacias aparentemente inocentes.
Mas vejam vocês que ela não fazia a mínima idéia do que aquela brincadeira, não aparentemente inocente, mas inocente de verdade, estava repercutindo ao seu arredor. (nota: meu âmago é o arredor de uma criança).
E ela seguia assim, sem a mínima preocupação ou entendimento de até onde chegava o seu carrinho. O pior é que quando crescer talvez haja um pouco mais de luz em seus olhos para ver até onde chegam suas virtudes ou vícios. Mas só um pouco mais, pois a verdade é que nesse quesito, "qual é a repercussão dos nossos atos? Qual é a verdadeira extensão dos nosso braços?", parece que nos mantemos infantis até o dia em que morremos...

beijos

Saturday, June 20, 2009

o mergulho


Aqui, duas formas de contar a mesma coisa. Qual você prefere?

1 - O mergulho

O último respiro,
resquício final da superfície,
não é o que se pensa antes de afundar,
mas só neste útero que ensurdece
com a idéia silenciosa de estar ao seu alcance.

Contrariando as rosas, quanto mais se obscuram mais florescem estas águas,
tornando o azul tão íntimo que os olhos abertos não vêem além dos fechados.

À medida que vai te aprisionando dentro do mar
liberta-te também das lamúrias dos que não conseguem esquecer,
para que as profundezas do mar possam se tornar o seu novo raso,
pois só consegue afundar aquele que molha não só o corpo,
mas o coração, os pensamentos e a própria alma."

fim 1

2 - O mergulho

O ar que era valioso já não importava mais
Me encher dele era mera conseqüência do costume
Minhas decisões não querem mais saber se respiro ou não.
Só o que importa e alfineta meus pensamentos,
que, sem palavra nenhuma, me grita alto nos ouvidos
é a profundeza do mar dizendo que está a meu alcance
pronto para me receber como um útero o seu bebê,

Pois nessa imensidão que não tem tamanho,
A profundeza e a distância são a porta de entrada,
Trazendo suas florescências conforme me fecham em suas entranhas.
E os olhos que antes abertos viam o que havia no mundo,
Fazem enxergar o mesmo que agora os olhos fechados também podem.

Conforme vou sendo cada vez mais da água, compactado em seu espaço
E molhando tudo que tenho de mim
Oque me flutuava e me mantinha em cima de suas bordas
agora me empurra cada vez mais pra baixo,
Me chama para esquecer meus antigos sonhos,
Meus antigos beijos, minhas antigas vidas,
Para fazer dele, o fundo do mar, a morada de minha pele,
E transformar a profundeza que antes era longe e não tinha fim,
No chão que vai tocar meus pés
Talvez até no teto que vai proteger minha cabeça.
Pois para chegar às profundezas,
O que se deve embebedar com a água salgada é toda a existência
Já que não há outra forma de mergulhar, a não ser quando se está pronto para
Molhar não só o corpo, mas o coração, os pensamentos e a própria alma.

fim 2

Wednesday, April 29, 2009

Uma ode à fraqueza - sobre uma necessidade discriminada.

Você que me faz tanta falta,
que foi tão injuriada e culpada pela nossa necessidade de Glória e Conquista.
Que foi banida de nossas vidas pelas forças da propaganda
e convencida de que não servia para nenhum propósito louvável.
É você que clamo para que se re-erga das tuas cinzas,
para que se solte da morte tirana que te impôs a vontade do Sucesso
e surja novamente com toda a sua graça e esplendor.
Volte, te suplico, e me preencha com mais do que um abraço,
me orne de poeiras no chão sem que eu sinta pena de mim mesmo.
Faça poder crescer plantas sobre todo meu corpo e
me prepare para as inutilidades.
Me livre da minha plena capacidade altiva de auto-completação,
me desinfle!
És tu, Fraqueza, que clamo para que deixe seus reguardos
e venha se juntar ao âmago da minha fonte,
para que assim eu possa ser o menor de todos
com a mesma plenitude
dos que acham que podem ser os maiores.

fim.

outra coisa:

Queria saber se falar sobre mim é também falar sobre os outros... o argumento para validar como verdadeira a frase anterior, seria: afinal, somos todos gente. Faço parte dessa mesma massa humana que você e todos mais... O que você acha?

Confesso que já faz um certo tempo não me sinto assim...

A sensação é que tenho algo que está errado, que não foi validado, que não se encaixa direito. A consequência é essa inquietação de que que preciso fazer algo para me mudar, adaptar. Faço um esforço, olho para o lado com atenção, tento me ajustar no contexto, vivo a vida de um embrião que tem de se contorcer para caber no seu próprio ovo. Mas não adianta. Essa sensação de que tenho algo esquisito, errado, prevalece. Não desisto, recorro aos universitários: uso as pessoas para fazer perguntas, considerações, ponderações, tentativas. Tem algumas que me escutam com atenção e até gostam de se embrenhar nessa confusão, outras simplesmente me ignoram e não falam nada. Elas (vocês) são a minha tentativa de achar as portas para poder voltar ao "ovo".

Me dá curiosidade em saber como é com as outras pessoas? Quantas por aí que também se sentem descontextualizadas, meio tortas. Você? Você também se sente em um limbo desconexo e fica tentando se adaptar?

Pois eu recebi dois alertas que diziam a mesma coisa: "Henri, isso é uma questão de valores". E é por isso que escrevi esse texto. Porque achei sensato fazer a oração acima para um desvalor que eu prezo tanto.

Sunday, March 29, 2009

Comunicação


Vamos lá, senhoras e senhores, a um assunto que acredito ser de extremo interesse para todos nós. A tal da comunicação interpessoal.
Todos dias nos deparamos com centenas de milhares de situações em que devemos falar, fazer gestos, escrever, etc´s e tais com as pessoas ao nosso redor. Isso define boa parte da nossa capacidade de transformar, interagir e sermos no mundo.
Pois bem, qual é a estratégia mais adequada para interagirmos com as outras pessoas?
Você prefere adotar a política de "vou limpar minha alma" ou "vou ser polido"?
Vamos à explicação de cada uma delas:
1 "limpar minha alma" - limpar a alma se refere a adquirir um compromisso com a sua verdade mais espontânea e repassar isso aos outros. Não fantasiar de artimanhas para diplomatizar a fala. Ser cru, e com isso expor as mágoas dos feridos ou a couraça dos desprovidos de sentimentos.
2 "vou ser polido" - a polidez se refere a contornar as situações de maneira diplomática. Usar dos entalhes para rebuscar as sua intenções e vestir na fala uma roupagem não íntima, elaborar uma tática para incluir ameninades e gentilezas nas suas intenções.

Vantagens x Desvantagens:

Dentro da primeira forma eu vejo a vantagem de nunca correr o risco de enganar o outro ou a si mesmo. Ser sincero com a espontaneidade te leva a enfatizar o âmago do indivíduo e te expõe o suficiente para que ou gere uma forte relação de simpatia ou um repúdio igualmente forte. Por conseguinte, há aqui um risco maior. É mais fácil criar animosidades e conflitos.

Já na segunda forma, vejo como vantagem de que as amenidades são levadas ao convívio e a relação desgasta-se com menos facilidade. A diplomacia, no entanto, pode ser um limiar estreito demais para poder diferenciar a verdade da mentira, e o risco está em criar situações que não se encaixem com a coerência e inteligência do seu indivíduo.

Existem mais maneiras para a expressão e comunicação em geral que não citei aqui. Gostaria que ponderasse sobre as maneiras de encarar a comunicação e, diga-me, qual delas você prefere? em qual delas você se enquadra? qual delas você acha mais interessante?
Claro, vão dizer: "existe um equilíbrio entre uma forma e outra" , "temos de ser razoável e aprender a nos comportar de maneira adequada conforme a situação". Mas faça um esforço, escolha uma, mesmo que não esteja exatamente coincidente com o que pensa, mas que assim possamos saber de como estão ou as nossas pretensões para a comunicação na média das situações.

Gostaria muito de ouvir ou ler a sua opinião a respeito. Se não quiser deixar um comentário nesse post, escreva para henrisiro@gmail.com

Obrigado

Thursday, March 05, 2009

do encosto que é uma pulga


Eu tenho um gato leve de saturno

toda a vez que o ouro brilha, seus olhos giram

e dou um pulinho para a soberba

não fico muito tempo,

logo volto porque parece injusto merecer tudo isso

eita, braços abertos que tenho!!

eita, coração que brilha toda a vez que o gato leva um susto!

EITA GATO MEDROSO!!!

tá vendo a pintura ali!

a estrada feita de nanquim e guache não dá pra uma charrete

então tenho de ir a pé...

fica tão fácil confundir com o piso do corredor do escritório

mas agora que estou dentro da pintura

vou dançar a mercê de um trigo acolhedor

e cantar uma ode aos monges saltadores

eis que meu gato se assusta, gira a dentadura, a cabeça,

2, 3 vezes, pro lado de cima e pra direita

silêncio

do meu peito sai uma luz do tamanho de toda a beleza que o enche

é o prazer da não repetição que se repete

e é infinita

Saber do que é real é questão de imaginação

Já que a maioria da gente se restringe a só o que se toca,

eu que isso não agüento porque acho seco demais,

convido tua cabeça pra cuspir chuvas,

e aprender a viver do teu jeito que te gusta

Saturday, February 14, 2009

Solidão

Imagine-se no meio do ar, um(a) viajante no céu... és quem? sim! Uma nuvem!

Imagine-se uma nuvem, brilhando branca, soberana, única indolente no meio do infinito azul

és a única estrela de algodão, a escolhida soberana no céu.

Todas as atenções dos que olham para cima, daqui da terra, ou pra baixo, de lá do universo, se deparam em ti

tens o foco das lentes dos viajantes terrenos e das criaturas do ar, pois no meio desse oceano de anil és a única mancha alva a marcar os olhos

a soberana, a ressalva, a marcação, a coluna de apoio, a escolhida, a branquidão em meio a cor

se fosses quem é hoje, mas colocado(a) no contexto deste texto, terias tudo:

Da admiração dos que te olham viria a paz de espírito que deseja, da noção de singularidade, a sensação de que tens o carinho da importância, da confirmação de que és quista e desejada, a felicidade de ser um acerto da natureza

manteria-te em altivez e extasê.

Pois bem....

mas imagina-te um pouquinho melhor, agora.

imagina-te uma nuvem sozinha no céu,

vagando

imagina que os olhares alheios são inférteis, e são os mesmos sempre

não te trazem mais do que uma ou outra sensação passageira

imagina que és morimbunda, não cria vida alguma

e, por mais que sua existência seja junto com os astros

a tua solidão que te trás a fama também faz-te trilhar o caminho da inglória

uma vez que tudo que deseja, imagina-te bem,

seria que pudesse encontrar outras nuvens, esmorecer do teu brilho pelas outras iguais a ti

que caísse na vastidão do esquecimento,

mas que assim, carregada,

pudesse se chocar contra as outras,

fazendo gotas pelo ar,

molhar com as suas graças outras existências,

brotando o prazer não mais do egoísmo da singularidade,

mas de matar uma estrela e fazer nascer

em meio a outras nuvens, uma chuva

Thursday, January 22, 2009



Naquele dia me apareceram dois sóis.
Um feito de fogo no espaço, o outro feito de corpo aqui na Terra
Um me trazia e banhava de luz,
que junto com o reflexo do mar fazia tudo parecer ouro de dourado,
qualquer casca seca virava um colar de diamantes
Sol de Midas, que nada endurecia, só amolecia meu coração
e inundava os meus olhos de beleza

e o outro Sol me trazia o calor,
me umedecia, me suava
seus raios, em abraços, me alçavam inteiro,
mas nem que me tocasse em um só pequeno ponto,
que fosse de raspão,
me sentia inteiro no seu colo,
Sol que queimava mas não ardia, somente fazia amolecer o meu corpo
fazendo da minha pele, boca, nariz, energia e intuição
uma piscina para os mergulhos das suas beatitudes

os sóis, juntos, fizeram da sua alquimia o berço para
as vozes que em coro de reverência ao que é santo
deitaram meus ouvidos em músicas de algodão


Tenho 8 sentidos que conheço
e 7 era acariciados pela graça do prazer
pela luxúria da exuberância,
pela violência dos agradados
advindas dos sóis,
só o oitavo, o último sentido, que nunca tenho contato,
que restara para Deus