Sofro de mal-humor nas segundas-feiras. Ela me toma o espírito como se tivesse vida própria, como se soubesse a hora de atacar, a maneira de me persuadir, de direcionar minha atenção para as coisas que menos me agradam.
Segundas-feiras possuem um espírito maligno, pálido, que se mostra nas névoas que andam pelas ruas durante suas manhãs. São o sopro de um dragão sombrio, camuflado, se esgueirando pelos princípios da vida afim de tomar os belos suspiros dos apaixonados e inflar os olhares odiosos dos ingratos. Pelas segundas, sou ingrato. Mordo-me os dentes e não temo o rancor, sou negro-noite, sem estrelas, emito o mesmo uivo soturno dos coiotes sedentos pela carne sangrenta dos que acham que dormem tranquilamente. Segundas-feiras são perigosas para os que procuram, na vida, só o canto de regozijo com os passarinhos, para os que acreditam em um grande amor como um berço de carinho para os destratos da alma humana, para os que passam longe dos becos de suas psiquês em busca do colorido das luzes artificializadas. Segundas-feiras, meus futuros caros fúnebres corpos, são para os que apreciam, e conseguem ter, a coloração cinza-escuro escarlate em seu matiz d´alma, em seus espelhos mortais dos gestos de vida. Para os outros, os meros restantes, esperem o dia seguinte, pois hoje é para os que não temem a desesperança e sentem na perdição o contato com o sublime da vida, já que não há quem possa afirmar que o altar supremo da existência seja ele mais claro do que essas segundas, tão íntimas, insubstituíveis e plenas do obscuro lado sem luz.
Engrandeço-me
6 years ago