Friday, July 20, 2007

Espelho espelho meu, tem alguém mais que vê oque é meu?

Quando percebi, já estava naquela sala escura, a observar atenciosamente oque acontecia no lugar onde nada podia ser dito sobre materialidades paupáveis e comuns.

Via, com a pouca luz, alguns tantos agachados no chão, de olhares distantes e abraçados nos próprios joelhos, aos sussurros, mas muito mais, aos suspiros. As sussurações, entendia aquele que no momento os olhasse, que vinham do resguardo que os anunciadores das idéias fracas e demasiadamente sensatas deveriam ter, e, por não saber entender suas próprias cabeças, estes arriscavam, e sabiam disto, a categoria; já os suspiros, compreendia o visitante, que aconteciam por serem as marcas das idéias que morrem pela falta de proximidade com a abstração, sintoma, naquele lugar, das incapacidades.

Ao levantar um pouco mais olhos, procurando coisas além das que estavam no chão, deparaei-me com um outro tipo de gente, coisa, personificação, sabe-se lá. De andar ereto, como modelo na passarela, mas à horizontal, com os pés na parede negra de aparente inexistência, falavam sem mais receios, pronunciando com liberdade oque os que estavam no chão também queriam poder dizer.

Alguns pouquíssimos olhos desses seres miúdos e obstinados cá de baixo alcançavam ver os que andavam virados de cabeça para baixo, onde quase a ausência de luz possibilitava o encontro da visão com os cabelos (e às vezes as testas) daqueles que andavam virados. Nada podia-se ver pra além disto, talvez eles nem tivessem corpos ou pés, mas se permitiam os gritos e incitavam a cobiça dos mais próximos ao chão.

Os que suspiravam, às vezes aos sussurros, a morte das idéias, de tempos em tempos abandonavam suas próprias vidas para só olhar os outros e desejarem ser oque não eram.

Mas ao se esquecer das alturas e das possíveis hierarquias, voltava-se a atenção para algumas correntes que atravessavam o pântano de cor verde, do limo sujo, que na ocasião, de tão negra que estava a sala, parecia clarificar o ambiente.

A sensação, entretanto, era da falta de limites. Da ruptura com o branco das chuvas e o encontro com o enlamado musgo da sensação da Terra.
Azul, o escuro, também podia-se ver atravessando o meio do caminho entre o chão e o teto, trazendo a sensação de sopro de brisa para esta parte que pintava o nosso lugar com a cor do céu anoitecido.

No pântano alguns rastejos podia-se ver, nada se ouvia. Eram, na verdade, os que andavam com o corpo dentro da terra e com a cabeça descoberta, repletos da cor escura da lama, mesmo assim, colorindo muito mais aquele ambiente de atmosfera ambiciosa mas completa, do que qualquer outro que ali gritasse, falasse ou que quisesse a fala.

O SILÊNCIO! SEM SUGERIR CATEGORIAS E DIFERENCIAÇÕES, MAS CHEIO DE VALOR.

Porém, pouquissimamente mais tarde, o longínquo barulho de um dos meus pensamentos costumeiros fez tudo congelar aquém do próximo instante, que só existiria se subordinado a ausência de ruídos. Aquela mágica toda, junto com suas imagens e representações, como fumaça ao vento, foi se diluindo ao som da companhia das minhas falações internas, e morriam lentamente pela música daqueles que, ao invés de olhar o mundo e as coisas, olha somente oque se passa dentro de suas cabeças.

Provavelmente sejam os infortúnios que as ideías cartesianas causam em nossas vidas, mas fato é que passei, à partir deste instante, a duvidar do que acabara de ver. Os sons das idéias, sim, conseguia ouvir em alto e bom tom, com credibilidade. Isso, porém, só fez levar o turvo já impreciso daquela cena, suavemente, à liquefenta transparência vítrea de um corrego limpo e corrente, que conforme passava, diluia ainda mais o silêncio das imagens para o murmúrio constante da vista de um riacho.

Tal lugar, repleto das idiossincrasias mas também de similaridas, cheio das ansiedades mas completo em si mesmo, ouvi falar depois, quando estive nas proximidades de um ninho de passarinho, que se tratava do reflexo que o rio fazia da pessoa que queria ver a própria beleza em seus espelhos d´água, mas o rio, perspicaz, só mostrava-lhe oque mais poderia, quem tentava ali se admirar, ter dificuldades em ver.

Mostrou-me minha rejeição pela imundície da alma que eu, mais do que ninguém, queria poder admirar, na sapiência de que Deus nada filtra mas tudo alcança.

4 comments:

Unknown said...

Daê loko! Parabéns aí pela iniciativa...
mas eu não preciso, hipócritamente, dizer aqui que entendí o texto...
não é mesmo?
;)

Alexunder Curwen said...

E ae Henri... Esse post é so pra deixar claro que ando atento às modificações do teu blog, entretanto hoje não tenho tempo pra poder ler o seu texto, mas em breve o lerei e farei um comentário.

Gabriela Mucillo said...

Inicialmente, a parabenização, poderia fazê-lo um pensador sarcástico e indiferente à opinião alheia.No entanto, a imagem refletida no espelho que desvenda todo o marasmo e angústia do inconsciente que está explicitamente nos nossos olhos. Você vê, e desvenda a escuridão contida nas adjacência do dia que insiste em não passar, do frio que gela as entranhas aquecidas pelo café ruim e amargo, mas que amenizado pelo leite em pó, faz-se aceitar e tomar!
Enjoy your day!

Unknown said...

coconutoooo
Parabens voce consegue harmoniozamente entrelaça as palavras...mas me diga porque sempre conteudos pessimistas e obscuros, tudo é uma questao de escolha durante muito tempo tb fui uma poeta apaixonada pelo sofrimento, mas quando comecei a tirar as vendas dos meus olhos e desenvolver minha energia e cosnciencia percebi que esse e o pior ato de aprisionamento que um Ser pode fazer consigo mesmo e ainda influenciando outros...A vida em sua simplicidade e naturalidade é bela e sutilmente magica, entao para que olhar sempre as diferenças alienatorias se podemos valorizar a alegria que nos une!!!!!!!!!!!
baccione coconuts...Lara veggie