Tuesday, January 23, 2007

São em dias como esse que lembro de como ainda me comporto como pretendente, como promessa, como larva, como gérmen, como anseio, como ave no ovo, como fome.
Sei que de certa forma estou em algum tipo de encubadora, uma crisálida, em um estágio larval, me transmutando, me transformando, me adaptando. Me mexo como um embrião amorfo dentro das paredes de seu casulo, paredes que seguram a sua vontade de enfim tornar-se, de enfim completar-se, de enfim tomar o formato de não precisar mais tomar outro formato.
Enquanto isso, fico a me contorcer, em meio aos fios brancos e pegajosos que tomam quase todo o espaço do interior deste meu ovo, com a boca entre aberta, os olhos ainda negros e cegos, o pescoço e as costas curvos, a cabeça nua e desproporcional, contorsendo-me em espasmos transfigurativos, na tentativa de encaminhar este formato uterino para sua forma adulta, em um esforço do próprio corpo para sair de si mesmo, para não ter mais de suportar-se, para não mais se ver neste estado enlesmado, larvático, infantil.
Aglomerando veias, esticando tecidos, torcendo a postura, ele mesmo tende, como um objeto inanimado que começou a tomar partido do mundo dos desejos, lentamente, a fazer-se sair deste estado desfórmico, desperfeito, insadio, questionando sua situação pegajosa, lenta, despreparada, e caminhando para sua verdadeira forma de presença, para sua completação inquestionável, para a sua firme postura de ser oque, desde sua mais antiga noção de vida, já conhecia, já intuia, já se sentia como.
Ele, esta coisa que entendo por "mim", move-se em direção a abolir sua condição de existir nesta casca imóvel, branca, úmida, grudenta, que é próprio dos que ainda não estão prontos a se tornarem lisos mais uma vez (sim, mais uma vez, pois tem memórias de já ter sido um estado definitivo, bem acabado e em forma adulta, uma vez).
Assim, sou alguém na terceira pessoa, um indivíduo distante, que se comporta de maneira descontrolada, errante, rança e roca, que só oque faz, é se mover à direção de completar-se em algo que, na essência, ja é, e sempre foi.

2 comments:

Unknown said...

Meu querido gosmento e doce casca branca e mole...
Meu Terceira pessoa do singular, masculino e divino....que está começando a se tornar o que É...
Que possa absorver a vida de "gole em gole", aproveitando as oportunidades que ela te der.
Que se forme firme e forte na Essência, com prudência e reverência... levando a vida com amor e fé.
Te amo. Beijo da mãe coruja.Lux

Anonymous said...

Thanks for writing this.