Aqui, duas formas de contar a mesma coisa. Qual você prefere?
1 - O mergulho
O último respiro,
resquício final da superfície,
não é o que se pensa antes de afundar,
mas só neste útero que ensurdece
com a idéia silenciosa de estar ao seu alcance.
Contrariando as rosas, quanto mais se obscuram mais florescem estas águas,
tornando o azul tão íntimo que os olhos abertos não vêem além dos fechados.
À medida que vai te aprisionando dentro do mar
liberta-te também das lamúrias dos que não conseguem esquecer,
para que as profundezas do mar possam se tornar o seu novo raso,
pois só consegue afundar aquele que molha não só o corpo,
mas o coração, os pensamentos e a própria alma."
fim 1
2 - O mergulho
O ar que era valioso já não importava mais
Me encher dele era mera conseqüência do costume
Minhas decisões não querem mais saber se respiro ou não.
Só o que importa e alfineta meus pensamentos,
que, sem palavra nenhuma, me grita alto nos ouvidos
é a profundeza do mar dizendo que está a meu alcance
pronto para me receber como um útero o seu bebê,
Pois nessa imensidão que não tem tamanho,
A profundeza e a distância são a porta de entrada,
Trazendo suas florescências conforme me fecham em suas entranhas.
E os olhos que antes abertos viam o que havia no mundo,
Fazem enxergar o mesmo que agora os olhos fechados também podem.
Conforme vou sendo cada vez mais da água, compactado em seu espaço
E molhando tudo que tenho de mim
Oque me flutuava e me mantinha em cima de suas bordas
agora me empurra cada vez mais pra baixo,
Me chama para esquecer meus antigos sonhos,
Meus antigos beijos, minhas antigas vidas,
Para fazer dele, o fundo do mar, a morada de minha pele,
E transformar a profundeza que antes era longe e não tinha fim,
No chão que vai tocar meus pés
Talvez até no teto que vai proteger minha cabeça.
Pois para chegar às profundezas,
O que se deve embebedar com a água salgada é toda a existência
Já que não há outra forma de mergulhar, a não ser quando se está pronto para
Molhar não só o corpo, mas o coração, os pensamentos e a própria alma.
fim 2