Saturday, February 14, 2009

Solidão

Imagine-se no meio do ar, um(a) viajante no céu... és quem? sim! Uma nuvem!

Imagine-se uma nuvem, brilhando branca, soberana, única indolente no meio do infinito azul

és a única estrela de algodão, a escolhida soberana no céu.

Todas as atenções dos que olham para cima, daqui da terra, ou pra baixo, de lá do universo, se deparam em ti

tens o foco das lentes dos viajantes terrenos e das criaturas do ar, pois no meio desse oceano de anil és a única mancha alva a marcar os olhos

a soberana, a ressalva, a marcação, a coluna de apoio, a escolhida, a branquidão em meio a cor

se fosses quem é hoje, mas colocado(a) no contexto deste texto, terias tudo:

Da admiração dos que te olham viria a paz de espírito que deseja, da noção de singularidade, a sensação de que tens o carinho da importância, da confirmação de que és quista e desejada, a felicidade de ser um acerto da natureza

manteria-te em altivez e extasê.

Pois bem....

mas imagina-te um pouquinho melhor, agora.

imagina-te uma nuvem sozinha no céu,

vagando

imagina que os olhares alheios são inférteis, e são os mesmos sempre

não te trazem mais do que uma ou outra sensação passageira

imagina que és morimbunda, não cria vida alguma

e, por mais que sua existência seja junto com os astros

a tua solidão que te trás a fama também faz-te trilhar o caminho da inglória

uma vez que tudo que deseja, imagina-te bem,

seria que pudesse encontrar outras nuvens, esmorecer do teu brilho pelas outras iguais a ti

que caísse na vastidão do esquecimento,

mas que assim, carregada,

pudesse se chocar contra as outras,

fazendo gotas pelo ar,

molhar com as suas graças outras existências,

brotando o prazer não mais do egoísmo da singularidade,

mas de matar uma estrela e fazer nascer

em meio a outras nuvens, uma chuva